quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Cuidado com os falsos conservadores! Neocons e suas crueldades esquerdistas contra os cristãos

Cuidado com os falsos conservadores! Neocons e suas crueldades esquerdistas contra os cristãos

Julio Severo
Recebi um relatório ontem de Peter LaBarbera, uma das maiores vozes cristãs contra a agenda gay nos EUA, de que ele fora detido pela polícia de imigração quando entrou no Canadá. Fizeram uma busca intensa em seu telefone, notebook e pertences.
Não, não. LaBarbera não é um terrorista islâmico. De acordo com a Gaystapo e as turbas politicamente corretas, ele é pior: ele é “homofóbico” — um termo vago que pode ser livremente interpretado para se referir a criminosos ou meramente cristãos que citam versículos da Bíblia que condenam pecados homossexuais.
Os agentes canadenses confiscaram de LaBarbera uma cópia de DVD de um novo documentário russo chamado “Sodoma” como potencial “propaganda de ódio” em violação da lei canadense que proíbe materiais ou pessoas que podem potencialmente “incitar ódio” com base na “orientação sexual.”
“Sodoma,” que apresenta uma entrevista com o líder pró-família americano Scott Lively, do ministério Defend the Family International (Defenda a Família Internacional), apenas mostra a postura cristã tradicional de que a homossexualidade é uma perversão sexual.
LaBarbera estava entrando no Canadá para estar em seu próprio julgamento num tribunal porque sua manifestação pacífica em 12 de abril contra o aborto e a sodomia numa universidade pública canadense foi considerada “ódio.”
Ironicamente, o governo canadense que maltratou LaBarbera é o governo conservador de Stephen Harper, no poder há muitos anos. Os cristãos canadenses haviam votado nele para evitar maus-tratos da Esquerda contra os cristãos que se opõem ao aborto e à sodomia, e agora eles sofrem maus-tratos esquerdistas nas mãos de um governo conservador.
O Canadá “conservador” está se tornando um lugar perigoso para cristãos pró-vida e pró-família. Você pode com toda a liberdade protestar contra a sodomia e o aborto na Rússia, mas não no Canadá.

O amigo de LaBarbera

Passei meu dia ontem com um amigo americano de LaBarbera. Ele era o diretor de uma organização pró-família cristã num estado americano.
Vendo o avanço implacável da agenda homossexual e seus promotores, ele estava determinado a combatê-la sem concessões.
Mas algumas vozes “conservadoras” bem financiadas em seu estado achavam que concessões eram vitalmente importantes: “já que as organizações pró-família não poderiam permitir o ‘casamento’ homossexual, pelo menos deveriam deixar os ativistas homossexuais terem uniões civis.” Meu amigo de forma correta entendia que essas uniões civis eram um importante trampolim para pretensões mais elevadas, inclusive o “casamento” homossexual. Assim, ele resistiu a essas vozes, que vinham principalmente de grupos ligados aos neocons.
Então veio a batalha entre Barack Obama e Mitt Romney na última eleição presidencial dos EUA. As mesmas vozes diziam: “Romney é a única opção conservadora para derrotar Obama!” Conservadora? Meu amigo e outros conservadores reais sabiam que o primeiro estado a legalizar o “casamento” homossexual nos EUA foi Massachusetts, sob o governador Mitt Romney, que se tornou o primeiro governador americano a sancionar uma lei que transforma a sodomia em casamento oficial.

Satanás e Belzebu

Alan Keyes, um católico conservador, denunciou, num excelente artigo do WND, que a escolha entre Obama e Romney era realmente “Uma escolha entre Satã e Belzebu.” Esse artigo foi adaptado para a realidade brasileira em meu texto: “Uma escolha entre Satã e Belzebu na eleição presidencial do Brasil.”
Mas os neocons venceram. Eles disseram que era absurdo não apoiar Romney. A prioridade, diziam eles, era derrotar Obama.
Meu amigo foi removido da direção da organização pró-família porque cristãos conservadores foram enganados e levados a escolher Belzebu para derrotar Satanás… E enquanto ele estava mencionando para mim o relatório de LaBarbera sobre sua detenção por “homofobia,” ele me contou como os neocons são poderosos entre os conservadores dos EUA.
Os neocons têm muito mais poder político e dinheiro do que a maioria dos cristãos que se engajam em batalhas pró-família apenas para defender suas famílias. Mas os neocons têm interesses “mais elevados,” principalmente interesses ultranacionalistas às expensas de valores morais e cristãos.
O que acontece quando cristãos conservadores votam nos candidatos dos neocons? Só olhe para o governo “conservador” do Canadá e seus maus-tratos esquerdistas contra Peter LaBarbera.

“Conservadores” no Reino Unido

No Reino Unido, os cristãos também votam em conservadores para se protegerem desses maus-tratos esquerdistas. Mas o que é que eles conseguiram?
O governo britânico sob David Cameron, do Partido Conservador, aprovou uma lei que transforma a sodomia em casamento oficial.
Primeiro, a conversa “conservadora” política era: “vamos lutar contra o ‘casamento’ homossexual, mas pelo menos deixar os ativistas homossexuais obterem uniões civis.” Em seguida: “Agora, deixem que eles obtenham o ‘casamento’ homossexual!” Isso não é conservador. Isso é neocon, ou falso conservador.
Agora, de acordo com o WND, homossexuais britânicos estão processando para forçar as igrejas a casá-los! Tudo começou com um governo “conservador” fazendo concessões, concessões e mais concessões.
A próxima conversa será: “o ‘casamento’ homossexual não é importante. Os conservadores deveriam focar em assuntos mais importantes.” Importantes para os neocons, é claro.
Tanto o Canadá quanto o Reino Unido são referências relevantes para nossa compreensão de que votar em conservadores (ou falsos conservadores) não é uma solução. Pode se tornar outro grave problema.

Neocons e a perseguição aos cristãos

O governo “conservador” britânico segue os interesses dos neocons, não os interesses dos conservadores. De acordo com Murad Makhmudov e Lee Jay Walker, a perseguição aos cristãos vem no rastro das ambições dos neocons, que têm inflamado tortura e assassinato de cristãos no Kosovo, Líbia, Iraque, Síria e outras nações. Eles apontam que os EUA e o Reino Unido são as principais ferramentas dos neocons para facilitar a perseguição aos cristãos.
Então os neocons têm a capacidade de enganar os cristãos conservadores e levá-los a escolher seus candidatos “conservadores.” Em seguida, eles têm capacidade igual de impor maus-tratos esquerdistas aos cristãos em seus países enquanto ao mesmo tempo estimulam tortura e morte de cristãos em outros países.
Mesmo assim, os neocons sequestram os sentimentos conservadores em todos os lugares, enganando suas vítimas que os candidatos deles são melhores que seus inimigos.
Na recente eleição presidencial do Brasil, neocons americanos estavam ativamente envolvidos, conforme denunciado no artigo “Estrategista de Obama na campanha presidencial do Brasil.” O candidato deles era pró-agenda gay, mas os conservadores foram enganados para pensar: “A agenda homossexual não deveria ser importante agora.” A coisa importante era derrotar os inimigos dos neocons.
Nesse caso, como muitos brasileiros me contaram, se Obama estava com os neocons, ele é um herói!
Eu não compreendo por que os neocons são chamados de neo-conservadores, pois eles estão dispostos a apoiar qualquer causa, conservadora ou esquerdista, que avance a supremacia dos EUA.
Alan Keyes está certo. Candidatos esquerdistas não merecem nosso apoio. E definitivamente os candidatos dos neocons também não merecem.

Jesus e os governantes maus

Para um cristão conservador de verdade, há outra questão. Quando só os maus governam, os cristãos deveriam focar sua atenção apenas em prioridades espirituais: a pregação do Evangelho e a salvação dos pecadores.
Quando o Império Romano dominava Israel, Jesus nunca instigou seus discípulos sobre questões políticas. É claro que se há um candidato que não é anti-família, somos livres para apoiá-lo. Mas ambições políticas nunca foram a prioridade ou preocupação de Jesus. Ele nunca ficou obcecado sobre apoiar um governante mau contra outro governante mau. Aliás, ele nunca instigou seus discípulos nessas obsessões.
Quando estrategistas políticos manipulam os conservadores, penso em LaBarbera sendo detido por um governo conservador por sua postura cristã contra o aborto e a homossexualidade. Penso em meu amigo americano sendo removido da direção de uma organização pró-família porque neocons bem financiados acham que a supremacia das políticas americanas deveria também ter prioridade sobre questões pró-família. Penso nas igrejas britânicas sendo processadas para casar homossexuais. E penso nos cristãos na Síria e Iraque sendo degolados por causa do financiamento dos neocons dos EUA e Reino Unido aos degoladores islâmicos.
Nesta altura, deveríamos ter aprendido algo com o exemplo de Jesus e os ardis dos neocons.
Leitura recomendada:

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Venezuela, Foro de São Paulo, EUA, petróleo e outras questões para um conservador pensante

Venezuela, Foro de São Paulo, EUA, petróleo e outras questões para um conservador pensante

Julio Severo
“O Brasil se tornará uma Venezuela se votarmos em determinado partido,” é o que dizem muitos brasileiros desesperados.
O que foi necessário para que a Venezuela se tornasse o que é hoje? Mais de 90 por cento dos venezuelanos são católicos e, como todo o resto da Igreja Católica na América Latina, grandemente afetados pela Teologia da Libertação. O que então de longe mais facilitou a expansão do esquerdismo na América Latina não foi o Foro de São Paulo, mas a Teologia da Libertação e seus milhares de padres e bispos militantes vermelhos.
Se o Vaticano tivesse conseguido se impor contra o comunismo de seus padres e líderes latino-americanos, o Foro de São Paulo secaria em questão de poucos meses.
Mas o caso da Venezuela é mais complexo. Embora a Igreja Católica da Venezuela tenha falhado gravemente ao dar espaço para a Teologia da Libertação, houve, porém, uma grande oportunidade de matar todo o financiamento do comunismo de Hugo Chávez. Contudo, quem tinha poder de fazer isso nunca o fez.
Chávez elegeu-se no final de década de 1990, durante o governo de Bill Clinton, presidente esquerdista, abortista e homossexualista dos EUA.
Chávez continuou governando e expandindo seu comunismo na Venezuela e outros países latino-americanos durante o governo de outros presidentes americanos. Essa expansão foi sustentada pelos bilhões de dólares vindo da exportação de petróleo.
Não, o maior comprador do petróleo da Venezuela não era Cuba nem o Foro de São Paulo. Eram e continuam a ser os Estados Unidos.
Os governos americanos de Clinton, George Bush e Barack Obama sempre tiveram chance de dar uma paulada na expansão do comunismo na Venezuela, mas provavelmente achavam que a compra de petróleo era muito mais importante do que exterminar o comunismo.
Essa ganância por petróleo colocou bilhões de dólares nas mãos de Hugo Chávez, que usou para os interesses do Foro de São Paulo. Na prática, uma meta comunista com financiamento de vários governos (esquerdistas e conservadores) dos EUA.
Quero deixar claro que, fiel aos meus princípios pró-vida, sempre fui apoiador de Bush, que era contra a agenda abortista e homossexualista. Ele não era um defensor de Israel como era Reagan, mas pelo menos ele defendia interesses pró-família.
Quando Bush visitou o Brasil em 2007, a Globo me procurou para uma entrevista porque, de acordo com a jornalista, eu era um dos poucos brasileiros que apoiavam o presidente americano.
Se ele fosse candidato presidencial no Brasil, eu votaria nele apenas pelas credenciais pró-vida. Nessas credenciais, ele seria, de longe, melhor do que os candidatos presidenciais covardes e entreguistas do Brasil.
Mas Bush falhou feio. Quando terroristas sauditas atacaram o World Trade Center em 11 de setembro de 2001, Bush deveria, por obrigação moral, ter invadido a Arábia Saudita, não o Iraque.
Possivelmente, o que pesou nessa decisão impensada era que a Arábia Saudita era aliada dos EUA — e grande fornecedora de petróleo aos americanos.
Possivelmente nem fosse ideia do Bush invadir o Iraque para colocar seus poços de petróleo na órbita comercial dos EUA. Talvez fosse ideia dos neocons — neoconservadores americanos, que defendem a supremacia econômica e militar dos EUA custe o que custar — que dominam o governo dos EUA. Nesse caso, sob o peso dessa elite perigosa, Bush não tinha escolha.
No caso da Venezuela, os mesmos interesses podem ter pesado. Custa-me crer que Bush não sabia que os bilhões de dólares que os EUA davam para Hugo Chávez em troco de petróleo não estavam sendo investidos na expansão do comunismo e do Foro de São Paulo.
Se eu fosse presidente dos EUA, ordenaria a imediata cessação desse financiamento.
Talvez as elites neocons tenham dito para Bush: “Aqui quem manda somos nós. Queremos o petróleo venezuelano e que se dane quem está governando naquele país. Você pode ser pró-vida ou pró-aborto na Casa Branca, mas nas outras questões quem manda somos nós, entendido?”
Como sou um conservador pensante, sou obrigado a pensar que a única explicação para tanto financiamento americano para o comunismo venezuelano foi porque Bush foi obrigado pelos neocons.
Claro que no caso de Clinton e Obama, que são socialistas, tais pressões eram desnecessárias.
Mas fico sempre me perguntando se o Cristianismo de Bush nunca falou na consciência dele sobre essas questões.
Hugo Chávez elogiava Obama, que manteve os EUA no papel vergonhoso de principal comprador do petróleo venezuelano.
Mas para Bush, Chávez nunca dava elogios. Chávez chamava Bush publicamente, até mesmo na ONU, de “demônio.” Mesmo assim, Bush continuava a maldita tradição americana de maior comprador do petróleo venezuelano.
Para um cristão conservador pensante, essa situação não faz sentido. Se Chávez era antiamericano ao ponto de xingar um bom presidente dos EUA, por que ele simplesmente não tomava a decisão de parar de vender seu petróleo para os EUA?
Se os xingamentos de Chávez contra Bush eram um incômodo para os americanos, por que os EUA nunca pararam de comprar o petróleo venezuelano?
Se o Foro de São Paulo e a expansão do comunismo na América Latina eram uma preocupação para Bush e outras autoridades conservadoras americanas, por que os EUA nunca pararam de financiar tudo isso com a simples atitude de abandonar sua posição de maior comprador do petróleo venezuelano?
Só havia dois modos fatais de acabar com o comunismo na Venezuela: 1) Fidelidade de todo o clero católico venezuelano às diretrizes anticomunistas do Vaticano — mas isso nunca aconteceu. 2) Pelo bolso: bastava que o governo dos EUA cortasse a principal fonte de renda venezuelana, que é a venda de petróleo — mas os EUA nunca fizeram isso.
Dói muito ser um conservador pensante! Eu me sentia mais tranquilo quando era um conservador que não pensava.
Leitura recomendada:

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O que ler sobre o conservadorismo britânico

O que ler sobre o conservadorismo britânico


Como havia prometido, elaborei uma lista básica de livros e artigos do, e sobre, o pensamento conservador britânico, com a valiosa ajuda do meu caro Filipe Faria. Também acrescentei algumas obras sobre a prática política conservadora na Inglaterra.

A ideia de elaborar a lista, como já expliquei, surgiu após vários pedidos de amigos e colegas interessados numa bibliografia para servir de introdução a esse tipo de conservadorismo. O aumento do interesse pelo assunto é algo a se comemorar, mas seria adequado que os interessados o estudassem antes de opinar sobre o tema ou mesmo antes de tentar aplicá-lo a questões factuais nacionais, especialmente por se tratar, no caso do conservadorismo britânico, de uma cosmovisão, como gosto de qualificar (explicarei isto num post futuro), ou de uma filosofia política, como alguns autores o classificam, ou como uma disposição, para usar o termo de Michael Oakeshott, oriunda de uma cultura completamente diversa da brasileira.

Além disso, tenho verificado equívocos conceituais e confusões terminológicas, uma falta de rigor no uso das palavras e dos termos, e uma vã tentativa de aplicar categorias conceituais estrangeiras à realidade brasileira. Mas estas palavras são menos uma crítica severa do que um convite sincero ao estudo do pensamento conservador britânico e, posteriormente, dos conservadorismos americano, europeu continental e brasileiro. 

À lista:

As Ideias Conservadoras Explicadas a Revolucionários e Reacionários, de João Pereira Coutinho.

- The works of Mr. Richard Hooker: Volume 1 e Volume 2.

The Complete Works of George Savile, First Marquess of Halifax, de George Savile Marquis of Halifax (ver p. 47-103).

Conservatism: its principle, policy, and practice : a reply to Mr. Gladstones speech at Wigan, 23rd October, 1868 , de Alexander Crawford Lindsay.

Conservatism, de Lord Hugh Richard Heathcote Cecil.

Conservatism in England, de F. J. C. Hearnshaw

What is Conservatism?, de Keith Feiling.

The Meaning of Conservatism, de Roger Scruton.

(a É Realizações deve publicar a tradução deste livro ainda este ano com um prefácio de minha autoria).

A Political Philosophy: Arguments for Conservatism, de Roger Scruton.

On Being Conservative (em português), de Michael Oakeshott. 


Conservatism (em Political Ideology in Britain, capítulo 3), de R. Leach. 

Conservatism (em Political Ideologies, pp. 48-54), de R. Eccleshall.

A Case for Conservatism, de John Kekes.

Conservatism, de Kieron O'Hara e David Willetts.

Conservatism, de Jerry Z. Muller.
Rationalism in Politics and Other Essays, de Michael Oakeshott.

The Politics of Faith and the Politics of Scepticism, de Michael Oakeshott.

The Politics of Imperfection: the Religious and Secular Traditions of Conservative Thought in England from Hooker to Oakeshott, de Anthony Quinton. 

- The Meaning of Conservatism (em Privilege and Liberty and Other Essays in Political Philosophy) pp. 133-171), de Aurel Kolnai.

A Defence of Aristocracy: A text book for Tories, de Anthony Ludovici.   

The Conservative Mind, de Russell Kirk (incluí este livro porque a base do conservadorismo de Kirk é burkeana).


O mistério inglês e a corrente de ouro, de João Carlos Espada.
The Conservative Neglect Of Culture, de Roger Scruton.

Conservatism, de Christopher Dawson.

The Essence of Conservatism, de Russell Kirk.

Ten Conservative Principles, de Russell Kirk.


Conservatism as an Ideology, de Samuel Huntington.

Em busca do equilíbrio, de João Pereira Coutinho
.

Espero que a lista, que poderá ser ampliada, seja útil para estudiosos e interessados no conservadorismo britânico. 

Fonte: http://www.brunogarschagen.com/2013/08/o-que-ler-sobre-o-conservadorismo.html


domingo, 29 de junho de 2014

Sugestão de leitura: O Verdadeiro Che Guevara - e os idiotas úteis que o idolatram - Acompanha um DVD com o documentário: "GUEVARA: anatomia de um mito" by Humberto Fontova (Jornalista, cientista político e mestre em estudos latino-americanos pela Universidade de Tulane e fugitivo de Cuba)

Sugestão de leitura: O Verdadeiro Che Guevara - e os idiotas úteis que o idolatram - Acompanha um DVD com o documentário: "GUEVARA: anatomia de um mito" by Humberto Fontova (Jornalista, cientista político e mestre em estudos latino-americanos pela Universidade de Tulane e fugitivo de Cuba)

Clique no link abaixo para acessar maiores informações:
http://historiareformacional.blogspot.com.br/2014/06/sugestao-de-leitura-o-verdadeiro-che.html 

domingo, 25 de maio de 2014

Partidos conservadores lideram eleições para Parlamento Europeu

UNIÃO EUROPEIA

Partidos conservadores lideram eleições para Parlamento Europeu


rupos de centro-direita mantêm maior bancada, à frente de socialistas, mas registram significativas perdas. Eleitores usam votos para protestar, inflando resultados de eurocéticos e populistas de direita.

Jean-Claude Juncker, candidato dos conservadores a presidente da Comissão Europeia
O conservador Partido do Povo Europeu (PPE) firmou-se como a maior força das eleições europeias, apesar de ter sofrido perdas significativas. A vantagem em relação ao agrupamento partidário dos socialistas europeus diminuiu. Após anos de crise do euro, muitos usaram seus votos para enviar uma mensagem de protesto a Bruxelas, levando partidos populistas e eurocéticos a inéditos resultados. Na França, a vitória da extrema direita Frente Nacional (FN) provocou um "terremoto político".
O bloco reunindo os partidos europeus de centro-direita conquistou 212 assentos no Parlamento Europeu, segundo projeções. O Partido Socialista Europeu (PSE) também apresentou perdas e ficou com segunda maior bancada, com 185 deputados. Em 2009, os dois grupos parlamentares obtiveram 274 e 196 deputados, respectivamente.
Em terceiro lugar estão os liberais, com 71 cadeiras, contra as 83 de antes. Os Verdes permanecem a quarta maior bancada, com 58 assentos – quatro a mais do que na eleição anterior. A esquerda radical ficou com 45 lugares. Os eurocéticos conservadores caíram dos atuais 54 para 44 mandatos, enquanto os eurocéticos radicais, liderados pelo britânico Ukip, sobem de 31 para 36 representantes.
O bloco de deputados sem bancada, entre os quais estão também integrantes da ultradireita, como da Frente Nacional francesa, cresce para 38 deputados.
Com o resultado, o PPE reivindica o cargo de presidente da Comissão Europeia, ao qual apresentou como candidato o ex-premiê luxemburguês Jean-Claude Juncker. "O PPE vai sugerir seu candidato como nome para a presidência da Comissão Europeia", afirmou o líder da bancada conservadora, Joseph Daul.
Partidários de Merkel ganham na Alemanha
Na Alemanha, os democrata-cristãos liderados pela chanceler federal alemã, Angela Merkel, alcançaram 35,3% dos votos, segundo resultados divulgados na madrugada desta segunda-feira (26/05) – seu pior resultado europeu desde 1979 e também significativamente mais fraco do que na eleição parlamentar de setembro (41,5%).
Os social-democratas do SPD aumentaram seu índice para 27,3%, após terem colhido o pior resultado numa eleição europeia em 2009, quando obtiveram apenas 20,8%. Um destaque no país foi a boa votação obtida pelos eurocéticos moderados da Alternativa para a Alemanha (AfD), fundada no ano passado, que chegou a 7%.

Marine Le Pen: "terremoto" que abalou a França
Na França, a Frente Nacional de Marine Le Pen superou pouco mais de 25% dos votos e se tornou a maior força francesa no Parlamento Europeu. O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, chamou o resultado de "um terremoto" para o seu país e para toda Europa. Os socialistas do presidente francês, François Hollande, conseguiram apenas 14,5%, ficando atrás dos conservadores da União para uma Maioria Popular (UMP), com 20%.
Vitória dos populistas na Dinamarca
Na Dinamarca, os populistas de direita do Partido do Povo Dinamarquês (DF) venceram as eleições com 26,7%, conquistando quatro dos 13 assentos dinamarqueses no Parlamento Europeu. Os social-democratas do primeiro-ministro Helle Thorning-Schmidt ficaram com o segundo lugar, com 19,1% (três deputados).
No Reino Unido, o UK Independence Party (Ukip), liderado pelo carismático Nigel Farage, que defende a saída de seu país da Europa e limitações para a entrada de imigrantes, apresenta o maior crescimento de votos da história da legenda, tirando vários assentos tanto do governo quanto da oposição britânica. Segundo projeções desta segunda-feira (26/05), o partido conseguiu 29% dos votos, à frente dos conservadores do premiê David Cameron (24%)
Na Áustria, agremiação de extrema direita Partido da Liberdade Austríaca (FPÖ), teria obtido 20,5%, em torno de 7,8 pontos percentuais a mais em relação a 2009. Isso significaria um terceiro lugar, atrás do conservador Partido Popular Austríaco (ÖVP) e dos social-democratas do SPÖ.
Em toda a EU, a taxa de comparecimento às urnas, de 43,1%, foi levemente maior do que em 2009, interrompendo a tendência de queda de comparecimento às urnas. Aproximadamente 400 milhões de pessoas foram convocadas a votar desde a última quinta-feira em toda a UE para eleger os 751 deputados do Parlamento Europeu.
MD/rtr/dpa/afp

DW.DE

terça-feira, 20 de maio de 2014

Direitista à força

Direitista à força




Desde que comecei a ler livros, meu sonho era um dia emergir do meio social culturalmente depressivo e ter um círculo de amigos com quem pudesse conversar seriamente sobre arte, literatura, filosofia, religião, as perplexidades morais da existência e a busca do sentido da vida – o ambiente necessário para um escritor desenvolver sua autoconsciência e seus talentos. Li centenas de biografias de escritores e todos eles tiveram isso.

Nunca realizei esse sonho, nunca tive esse ambiente estimulante. Por volta dos quarenta anos, entendi que não o teria nunca, e decidi que minha obrigação era fazer tudo para que outros o tivessem.

Minha atividade de ensino é voltada toda para isso. É com profundo desprezo que ouço gente dizendo que o objetivo dos meus esforços é "criar um movimento de direita".

Não conheço coisa mais inútil do que tomadas de posição doutrinal em política. O sujeito adota certas regras gerais e delas deduz o que se deve fazer na prática. Por exemplo, acredita em liberdade individual e daí conclui que não se pode proibir o consumo de cocaína e crack. Ou acredita em justiça social e por isso acha que o governo deve controlar todos os preços e salários.

O que caracteriza esse tipo de pensamento é a arbitrariedade das premissas, escolhidas na base da pura preferência pessoal, e o automatismo mecânico do raciocínio que leva às conclusões. No Brasil, praticamente todas as diferenças entre direita e esquerda se definem assim.

A coisa torna-se ainda pior pela tendência incoercível de raciocinar a partir de figuras de linguagem, chavões e clichês, em vez de conceitos descritivos criticamente elaborados. Isso torna o "debate político nacional" um duelo entre fetiches verbais imantados de uma carga emocional quase psicótica. Os fatos concretos, a complexidade das situações, as diferenças entre níveis de realidade, o senso das proporções e das nuances, ficam fora da conversa.

Aristóteles já ensinava que a política não é uma ciência teorético-dedutiva, na qual as conclusões se seguissem matematicamente das premissas, mas uma ciência prática enormemente sutil, onde tudo dependia da frónesis, o senso da prudência, assim como do exercício da dialética. Mas a dialética é a arte de seguir ao mesmo tempo duas ou mais linhas de raciocínio, e a impossibilidade de fazer isso é, dentre as 28 deficiências de inteligência assinaladas pelo pedagogo israelense Reuven Feuerstein, certamente a mais disseminada entre estudantes, professores, jornalistas e formadores de opinião no Brasil.

Não raro essa deficiência é tão arraigada que chega a determinar, por si, toda a forma mentis de alguma personalidade falante. Naquilo que neste país se chama um "debate", o que se observa nos contendores é a incapacidade de apreender o argumento do adversário, a ausência de uma verdadeira relação intelectual, substituída pela reiteração de opiniões prontas que o debate em nada enriquece.

O que me colocou contra a esquerda nacional desde o início dos anos 90 não foi nenhuma tomada de posição "liberal" ou "conservadora", mas a simples constatação de dois fatos: 1) a instrumentalização política das instituições de cultura e ensino pela "revolução gramsciana" estava acabando com a vida intelectual no Brasil e em breve iria reduzi-la a zero, como de fato veio a acontecer; 2) a opção preferencial dos partidos de esquerda pelo lumpenproletariat, tomado erroneamente como sinônimo de "povo" por influência residual de Herbert Marcuse, estava destinada a transformar a existência cotidiana dos brasileiros no carnaval sangrento que hoje vemos por toda parte.

Como é óbvio e patente que a solução de quaisquer problemas na sociedade depende da dose de inteligência circulante e do nível de consciência moral da população, daí decorria que, para denunciar a atividade maligna da esquerda nacional, que estava destruindo essas duas coisas, não era preciso que eu me definisse quanto àqueles inumeráveis pontos específicos de política econômico-social em que tanto se deliciam os doutrinários de todos os partidos e que em muitos casos eu considerava superiores à minha capacidade de análise.

Nos meus artigos, aulas e conferências, como o pode atestar qualquer observador isento, não se trata nunca de advogar determinada política em particular, mas apenas de lutar para que as condições intelectuais e morais mais genéricas e indispensáveis a qualquer debate político saudável não se percam ao ponto de desaparecer por completo do horizonte de consciência da classe nominalmente "intelectual".

Quando essas condições forem restauradas, não terei a menor dificuldade de me voltar para assuntos da minha preferência e deixar que o debate político transcorra normalmente sem a minha gentil intervenção.

Mas o fato é que, se a deterioração mental do País começou já no tempo dos militares, logo depois a esquerda triunfante a agravou ao ponto da mais desesperadora calamidade, e o fez de propósito, planejadamente, maquiavelicamente, disposta a tudo para impor, de um lado, a hegemonia cultural de cabos eleitorais, agitadores de botequim e doutores salafrários com carteirinha do Partido; de outro, a beatificação do lumpenproletariado e a completa perversão da consciência moral na população brasileira.

Até o momento nenhum partido de esquerda deu o menor sinal de arrependimento. Ao contrário, cada um se esmera na autoglorificação como se fosse uma plêiade de heróis e santos. Assim, não me deixam remédio senão estar na direita, no mínimo porque esta, no momento, não tem os meios de concorrer com a esquerda na prática do mal.


Olavo de Carvalho é jornalista, ensaísta e prof. de Filosofia

Fonte: http://www.dcomercio.com.br/2014/05/19/direitista-a-forca

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Sugestão de Leitura: As ideias conservadoras: Explicadas a revolucionários e reacionários


terça-feira, 15 de abril de 2014

A tradição da grande melodia






They understood that wisdom comes of beggary.
W.B.Yeats, “The seven sages”


            A publicação brasileira de um livro como As ideias conservadoras explicadas a revolucionários e reacionários, de João Pereira Coutinho, é de grande importância para o nosso mundo intelectual não porque o autor seja meu amigo (afinal, somos obrigados a fazer full disclosurede nossas relações em homenagem à honestidade intelectual que nos une), mas sim porque o seu assunto, mesmo que pareça cifrado ou distante demais do nosso cotidiano, é essencial para que se entenda as engrenagens políticas que estão em jogo, seja no aspecto nacional como internacional. O tópico sobre qual é o significado destas palavras repletas de insinuações maliciosas – conservadorismoconservadorreacionáriofascista – chegou a tal ponto de incompreensão, para não dizer estultice, que a mera leitura de algumas páginas deste pequeno e elegante volume é uma lufada de ar fresco em um debate que não existe mais – e, se alguma vez existiu, é certeza que já começou viciado.

            João Pereira Coutinho tem um estilo claro, direto que, sobretudo, não banaliza o assunto – muito pelo contrário, ele faz algo improvável para um livro de apenas 108 páginas: contribui com novas ideias, faz o leitor pensar em novas perspectivas e, mais, o retira daquela zona de conforto da qual a suposta “nova direita” tupiniquim sempre cai, constituída no binômio maniqueísta do “nós” contra “eles” quando, na verdade, todos estão no mesmo barco e ignoram se rumam ou não a um naufrágio.

            Todavia, ao mesmo tempo, o livro apresenta um problema, cuja culpa não é sua ou de seu autor, mas sim do leitor que irá encarar suas linhas. A pergunta que ficará para este sujeito será a seguinte: E o que eu tenho a ver com isso? Porque o livro não dialoga – e nem é mesmo a sua intenção primeira – com o público brasileiro, sequer o lusitano, apesar de ser escrito justamente na língua de ambos. O seu público é o anglo-saxão – e isso não é uma má notícia. Pelo contrário: Pereira Coutinho nos apresenta a um mundo que todos nós deveríamos ter acesso – e que foi infelizmente negado por causa de anos de lobotomia em uma cultura da estupidez institucionalizada. E quando falo de “mundo anglo-saxão”, não estou a falar de The Smiths, Echo & The Bunnymen, Lennon & McCarthy e Monty Phyton; falo do filósofo Roger Scruton, do cientista político Anthony Quinton, do grande Michael Oakeshott – e do honorável Sir Edmund Burke (1729-1797), considerado o pai do conservadorismo e, no caso de Pereira Coutinho, como bem observou Reinaldo Azevedo na orelha do livro, o seu Virgílio nos labirintos da ideologia política.

            E quem foi Burke, este homem que sempre esteve do lado certo das batalhas corretas, mesmo quando tudo levava a crer que o mesmo lado já estava perdido – e que é constantemente mal-tratado no Brasil pelos escroques de abismo, pelos libertários analfabetos em qualquer espécie de leitura e pelos esquerdopatas que só conseguem ver o mundo pelo prisma de Foucault e Marx?

            Edmund Burke sempre procurou por aquilo que o poeta irlandês W.B.Yeats chamava de “a grande melodia” (the great melody), expressão extraída do poema The Seven Sages (e que também foi utilizada pelo melhor biógrafo burkeano, Conor Cruise O´Brien, em livro de mesmo título). A busca por esta “grande melodia” permite ver Burke não só como o principal representante de um “conservadorismo” político (o que nunca foi a sua intenção), mas também como um estadista que refletiu sobre o próprio homem em situações históricas que estavam além do seu controle.

O exemplo histórico recorrente é a Revolução Francesa – objeto de seu escrito mais célebre, Reflexões sobre a Revolução na França (1791) –, mas também pode ser estendido para outros eventos, como a Revolução Americana (da qual Burke foi um de seus primeiros defensores), a perseguição política contra os católicos na Irlanda (fato que foi vigorosamente denunciado por ele em várias sessões no Parlamento Inglês) e o pedido de impeachment contra Warren Hastings, então governador-chefe da Índia quando esta era colônia do Império Britânico no final do século XVIII (Burke afirmava que esta era a denúncia pela qual queria ser lembrado na posteridade).

O que dá unidade a esta disposição de ação de Burke não é uma ideologia política (como costumamos chamar o “conservadorismo”), mas uma visão particular da natureza humana, alimentada pela observação empírica, pelo estudo dos clássicos e pela assimilação de escolas filosóficas que amarravam as pontas do passado e do então presente. É justamente ela que dá coerência à sua obra, de caráter aparentemente não-sistemático, pois tem raízes na denúncia constante dos abusos de poder, seja de quem for: do rei da Inglaterra, dos administradores coloniais, dos funcionários eclesiásticos, dos companheiros de Parlamento, e, como parece ser o caso da Revolução Francesa, dos filósofos e ideólogos do movimento jacobino.

O “problema da natureza humana” na obra de Burke é visto aqui não como uma questão que permite uma resposta definitiva a certos assuntos da filosofia, mas sim como um problema que estimula outras perguntas que, dessa forma, constituem o corpus de um pensamento que não se deixa petrificar em um sistema lógico ou em uma ideologia política, como também pretende ser uma descrição aproximada de como o ser humano pode se comportar na sociedade política de seu tempo.

Apesar de não ser uma obra que possa ser classificada como “sistemática”, i.e., uma hierarquia de raciocínios encadeados que mostram uma explicação lógica de axiomas e enunciados a respeito do que seria o real, o tema que une os escritos de Burke, como um rio subterrâneo, é o do problema da natureza humana percebido como uma tensão constante e dinâmica entre os princípios estruturais antropológicos e as circunstâncias mutáveis da História. Segundo a expressão de Ortega y Gasset, um problema é sempre “a consciência de uma contradição” – e, no caso de Burke, esta “contradição” é palpável em cada um de seus textos; aqueles que foram concebidos para serem lidos como tratados filosóficos (como Enquiry into the origin of our ideas of the sublime and the beautiful e o já famoso Reflexões) ou os que têm uma intenção mais “pragmática”, como os discursos proferidos no Parlamento ou a correspondência trocada entre as mentes mais eminentes da Inglaterra, como Samuel Johnson, Oliver Goldsmith e Joseph Peirce. Tal “contradição” é a busca de Burke, como filósofo e como estadista, em encontrar um equilíbrio e, o mais importante, umaordem que não seja estanque para o funcionamento da sociedade política e seu relacionamento com os indivíduos; o equilíbrio e a ordem fluída são uma forma de descrever como Burke percebia essa tensão inerente na estrutura da real e que, influenciado por seus estudos de Aristóteles, permeava a vida política na dinâmica da multiplicidade na unidade, em que os princípios estruturais antropológicos pelos quais um ser humano deveria se orientar – a experiência religiosa, os valores morais, o respeito pelo próximo, a hierarquia da ordem sobre a liberdade, a existência de uma consciência que se relaciona com o mundo objetivo, etc. – entravam ou não em choque com as mudanças súbitas dos acontecimentos históricos, como as reformas políticas ou as revoluções, sempre movidos pela necessidade ou pelo acaso.

É este o norte da visão de estadista de Edmund Burke – e que, justamente por ser um problema que acontece dentro do e com o próprio homem, torna-se também um estudo de antropologia filosófica e de comportamento humano. Desde os seus primeiros escritos, quando pretendia publicar em 1757 o seu An Abridgment of English History, o jovem Burke observa que há uma constante nas ações humanas – a capacidade de que o homem pode ter pensamentos e atitudes racionais, mas que, se não for educado corretamente nesses “sentimentos morais” (uma expressão de Adam Smith), poderia cair no “irracionalismo” disfarçado de racionalidade, quando se trata, na verdade, de uma abstração, de uma “especulação metafísica”, conceito que, como o irlandês adorava usá-lo com intenção irônica, indicava uma atitude de fuga da concretude da realidade cotidiana, dando origem aos “filósofos, sofistas e economistas” contra os quais o Burke maduro lutaria na eclosão da Revolução Francesa.

Entre uma etapa e outra da sua vida, ele manteria uma coerência notável em suas preocupações filosóficas e morais, sobretudo porque nunca perdeu de vista o fato de que a natureza humana – matéria-prima da política e da História, das quais tirava o seu sustento – era uma contradição sem uma resposta fácil. De certa forma, seu corpus abarca os tópicos principais da antropologia filosófica, daestética, passando pela política, até a moral e, por incrível que pareça – para alguém que não gostava muito de usar a expressão – a metafísica, sintetizando tudo isso em uma peculiar filosofia política que tangencia em uma filosofia da História.

Os exemplos são variados. Na estética, podemos citar o seu clássicoEnquiry into the origin of our ideas of the sublime and the beautiful (1757), que influenciaria Immanuel Kant em sua concepção sobre o belo e o sublime, e que argumenta que o homem é capaz de compreender a beleza do mundo ao seu redor se for corretamente educado para isso. Essa educação é um aperfeiçoamento dos “sentimentos morais” que já existem dentro dele e que o orientam para o seu desenvolvimento na sociedade onde vive e onde também pode contribuir com a transmissão dessa mesma beleza aos seus semelhantes. Este raciocínio teria seu complemento prático no momento em que Burke se volta para a vida política da Inglaterra e percebe que o seu papel como estadista é justamente educar não só o povo, mas principalmente os seus representantes, i.e., os membros do Parlamento e os intelectuais que os rodeiam; esta “educação cívica” consiste em transpor para a política o aperfeiçoamento dos “sentimentos morais” que antes era do âmbito estético para a ação humana racional e que deve fazer o possível para o bem comum da sociedade. É neste momento que a própria obra de Burke cresce de forma exponencial em termos de qualidade, com seus discursos e cartas, todas peças antológicas do pensamento político inglês do século XVIII.

Aqui, as amostras também são abundantes. Podemos citar e classificar a reunião de seus escritos de abordagem política em três partes. A primeira é a crítica constante e consistente dos problemas sociais que afligiam o Império Britânico, então governado pelo rei Jorge III; Burke percebe que a tensão da multiplicidade na unidade que há no ser humano pode ser estendida às instituições políticas que, para manterem a sua permanência, precisam ser constantemente reformadas; ora, o que ele diagnostica no Império naquele momento histórico é a petrificação de um status quo e a manutenção de um poder pusilânime que, para atingir tal resultado, usa de expedientes coercitivos, como o aumento de taxas e a criação de leis que perseguem explicitamente credos religiosos. Entre esses problemas que Burke apontou com precisão no Parlamento, estão nada mais nada menos que a Revolução Americana e a perseguição contra os católicos da Irlanda. Em discursos históricos como Thoughts on the Cause of the Present Discontents (1770), em que Burke não hesita em afirmar que o Rei pretende criar um “gabinete secreto” para mandar na Inglaterra a seu bel-prazer; e no Speech on Conciliation, em que, já em 1775, ele antecipa que os colonos americanos ganharão a guerra (e, mais, dá razão a eles), percebe-se que o estadista irlandês vê o ser humano em cada uma de suas circunstâncias históricas, procurando preservar o que é novo e o que já foi provado pela História como algo que deu certo, em um delicado equilíbrio entre a reforma e a tão temida revolução.

É justamente essa palavra – revolução – que unirá o segundo e o terceiro grupo de escritos políticos de Burke. Em ambos, ele vê tal evento – que transformará o eixo da História, da política e da própria constituição moral do homem, se não for adequadamente compreendida e até mesmo impedida – como um mal que o verdadeiro estadista deve evitar. No seu léxico, uma revolução significa uma ruptura, algo que foi impensado, de forma irracional, apesar do discurso que a justifica com as vestes de uma pretensa racionalidade científica e, claro, metafísica (em seu sentido ironicamente burkeano). Além disso, Burke vê a experiência de uma revolução como algo que vai completamente contra a própria natureza humana – que, habituada a aprender e a aperfeiçoar os seus “sentimentos morais” pelo estudo da História, se orienta pela prudência(phronesis) de querer e buscar a justa medida entre dois opostos e que descobre a circunstância favorável para a harmonia política na sociedade. Com isso, entende-se perfeitamente porque ele fazia questão de denunciar os abusos de Warren Hastings, então governador-maior da Índia, que, por meio de torturas, roubos e até assassinatos, ia contra tudo o que deveria ser considerado “humano”, e sua conexão oculta com a Revolução Francesa que, apesar de seus chamados à “liberdade, fraternidade e igualdade”, tinha dentro de si os germes do Terror que Burke previu com assustadora vidência em suas Reflexões. Estes dois fatos históricos, aparentemente díspares, mostram também como o estadista percebia as conexões secretas da História e como tinha plena consciência de que testemunhava um momento em que o mundo onde vivia passava por uma mudança radical e sem volta, na qual o delicado equilíbrio em busca de uma reforma política que amarasse a prudência e as necessidades humanas talvez não existisse mais.

Se o segundo grupo de escritos políticos – dedicados às denúncias contra Hastings – e o terceiro – escritos no calor da hora da Revolução Francesa – são o que tornou Edmund Burke famoso na Europa, temos de perceber também que há um outro grupo de textos, que mistura tanto as preocupações políticas como asfilosóficas-metafísicas (agora como o pensamento do “sentimento moral religioso”) e que dão a unidade a este corpus aparentemente desarticulado. São os escritos da pós-Revolução Francesa, em que Burke, já próximo da morte, medita sobre o destino do que aconteceu na França e, envolvido em uma polêmica intercontinental com pessoas renomadas como o pastor Richard Price e Thomas Paine, tem de se justificar perante o público a respeito das próprias idéias. Esta é a intenção de escritos como An Appeal from the New to the Old Whigs (1791), A Letter to a Noble Lord (1795) e, sobretudo, as Letters from a Regicide Peace (1795), em que Burke chega à conclusão de que a Revolução Francesa, junto com o Terror, foi um acontecimento inevitável no curso da História e que não havia outra maneira do ser humano (e, em especial, o ser humano político, o estadista que o próprio Burke acredita estar representando no final da vida) viver aquele momento senão aceitando-o como parte de um plano divino. Dessa forma, a tensão entre os princípios estruturais e as circunstâncias históricas chega a uma síntese em que o homem enfim é visto como alguém completamente dependente de uma Providência e que a política talvez seja uma arte do fazer o possível dentro das limitações de um acaso que não se sabe bem se é um verdadeiro acaso. O “problema da natureza humana” em Edmund Burke desemboca para uma espécie de enigma que, se não chega a uma soluçãoracionalista e sim apenas racional, é porque o irlandês percebe, dentro do seu percurso de vida, que a sociedade não se fundamenta sobre bases abstratas e sim através de uma “desconfiança” que talvez exista alguma coisa no real que estáacima da razão e que nenhuma revolução feita pelas mãos dos homens, seja política, histórica, social ou antropológica, poderá apreender na sua totalidade.

Assim, apesar de ser considerado por muitos como um dos primeiros representantes do “pensamento conservador”, Edmund Burke se apresenta como um estadista que vai muito além de categorias e classificações ideológicas. O grande diferencial de sua obra – e que o coloca no mesmo patamar de grandeza dos filósofos da sua época, como Adam Smith e Jean-Jacques Rousseau – é a visãoproblematizadora da natureza humana, percebida aqui como o ponto de passagem entre a antropologia filosófica clássica (de moldes greco-judaico-cristãos) e a antropologia filosófica moderna (fundada nas descobertas de John Locke, David Hume e Adam Smith – o chamado Iluminismo Britânico, como bem classificou Gertrud Himmelfarb em Os caminhos para a modernidade).

Esta mudança de eixo analítico entre a antropologia filosófica clássica e a antropologia filosófica moderna é um tema secreto, porém fundamental para se entender os embates modernos intelectuais e existenciais dos nossos tempos – no Brasil de Dilma Rousseff e dos Black Blocs, no Portugal da União Européia ou na Inglaterra de David Cameron. Burke encarna o paradigma do pensador que capta esta mudança de percepção no exato momento em que ela surge. E mais: conforme observou o mesmo Pereira Coutinho em sua formidável tese de doutorado, Política e Perfeição, que exige publicação imediata no nosso país, Burke se apresenta como defensor de uma primeira natureza humana, fundamentada sobre princípios que fazem parte da própria estrutura da realidade, e que, ao mesmo tempo, dialogam em uma tensão constante com uma segundanatureza humana, calcada em costumes históricos particulares e em circunstâncias de necessidade política. Esta tensão entre ambas as naturezas humanas permite-nos perceber uma pluralidade de valores e de decisões que não podem ser catalogadas facilmente em sistemas ideológicos, algo que, como o honorável irlandês diria, seria contra o exercício da política na intenção de uma vida harmoniosa em sociedade.


Felizmente, o livro de Pereira Coutinho nos relembra constantemente que existem esses princípios – e que eles são, junto com as circunstâncias que enfrentamos no nosso dia, o que movimentam a política verdadeira que esquecemos que existe há tanto tempo. Mas talvez o termo correto não sejapolítica – e sim algo mais pomposo e também nobre: sabedoria. É com ela, tão adormecida entre os nossos supostos líderes, que enfim aprendemos que só conseguimos dominá-la se enfim soubermos encontrar a “grande melodia” das nossas próprias vidas, a melodia que surge com a humildade e, retornando ao inesquecível poema de Yeats, com a pobreza que nos faz concluir que “aqueles que persistirem em se opor a esta poderosa corrente nos assuntos humanos parecerão resistir aos próprios decretos da Providência e não tanto aos meros desígnios dos homens”, conforme as palavras finais de um Burke que vislumbrava o seu próprio fim. A “poderosa corrente” pode ser uma revolução ou a mudança definitiva que sempre estará fora do nosso controle; mas também pode ser a imperfeição que é o nosso paraíso e que forma as notas principais desta melodia da qual queremos fazer parte. E é a isto que os honoráveis João Pereira Coutinho e Edmund Burke nos ajudam a brindar alegremente.

Fonte: http://martimvasques.blogspot.com.br/2014/04/a-tradicao-da-grande-melodia.html?spref=fb