domingo, 25 de maio de 2014

Partidos conservadores lideram eleições para Parlamento Europeu

UNIÃO EUROPEIA

Partidos conservadores lideram eleições para Parlamento Europeu


rupos de centro-direita mantêm maior bancada, à frente de socialistas, mas registram significativas perdas. Eleitores usam votos para protestar, inflando resultados de eurocéticos e populistas de direita.

Jean-Claude Juncker, candidato dos conservadores a presidente da Comissão Europeia
O conservador Partido do Povo Europeu (PPE) firmou-se como a maior força das eleições europeias, apesar de ter sofrido perdas significativas. A vantagem em relação ao agrupamento partidário dos socialistas europeus diminuiu. Após anos de crise do euro, muitos usaram seus votos para enviar uma mensagem de protesto a Bruxelas, levando partidos populistas e eurocéticos a inéditos resultados. Na França, a vitória da extrema direita Frente Nacional (FN) provocou um "terremoto político".
O bloco reunindo os partidos europeus de centro-direita conquistou 212 assentos no Parlamento Europeu, segundo projeções. O Partido Socialista Europeu (PSE) também apresentou perdas e ficou com segunda maior bancada, com 185 deputados. Em 2009, os dois grupos parlamentares obtiveram 274 e 196 deputados, respectivamente.
Em terceiro lugar estão os liberais, com 71 cadeiras, contra as 83 de antes. Os Verdes permanecem a quarta maior bancada, com 58 assentos – quatro a mais do que na eleição anterior. A esquerda radical ficou com 45 lugares. Os eurocéticos conservadores caíram dos atuais 54 para 44 mandatos, enquanto os eurocéticos radicais, liderados pelo britânico Ukip, sobem de 31 para 36 representantes.
O bloco de deputados sem bancada, entre os quais estão também integrantes da ultradireita, como da Frente Nacional francesa, cresce para 38 deputados.
Com o resultado, o PPE reivindica o cargo de presidente da Comissão Europeia, ao qual apresentou como candidato o ex-premiê luxemburguês Jean-Claude Juncker. "O PPE vai sugerir seu candidato como nome para a presidência da Comissão Europeia", afirmou o líder da bancada conservadora, Joseph Daul.
Partidários de Merkel ganham na Alemanha
Na Alemanha, os democrata-cristãos liderados pela chanceler federal alemã, Angela Merkel, alcançaram 35,3% dos votos, segundo resultados divulgados na madrugada desta segunda-feira (26/05) – seu pior resultado europeu desde 1979 e também significativamente mais fraco do que na eleição parlamentar de setembro (41,5%).
Os social-democratas do SPD aumentaram seu índice para 27,3%, após terem colhido o pior resultado numa eleição europeia em 2009, quando obtiveram apenas 20,8%. Um destaque no país foi a boa votação obtida pelos eurocéticos moderados da Alternativa para a Alemanha (AfD), fundada no ano passado, que chegou a 7%.

Marine Le Pen: "terremoto" que abalou a França
Na França, a Frente Nacional de Marine Le Pen superou pouco mais de 25% dos votos e se tornou a maior força francesa no Parlamento Europeu. O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, chamou o resultado de "um terremoto" para o seu país e para toda Europa. Os socialistas do presidente francês, François Hollande, conseguiram apenas 14,5%, ficando atrás dos conservadores da União para uma Maioria Popular (UMP), com 20%.
Vitória dos populistas na Dinamarca
Na Dinamarca, os populistas de direita do Partido do Povo Dinamarquês (DF) venceram as eleições com 26,7%, conquistando quatro dos 13 assentos dinamarqueses no Parlamento Europeu. Os social-democratas do primeiro-ministro Helle Thorning-Schmidt ficaram com o segundo lugar, com 19,1% (três deputados).
No Reino Unido, o UK Independence Party (Ukip), liderado pelo carismático Nigel Farage, que defende a saída de seu país da Europa e limitações para a entrada de imigrantes, apresenta o maior crescimento de votos da história da legenda, tirando vários assentos tanto do governo quanto da oposição britânica. Segundo projeções desta segunda-feira (26/05), o partido conseguiu 29% dos votos, à frente dos conservadores do premiê David Cameron (24%)
Na Áustria, agremiação de extrema direita Partido da Liberdade Austríaca (FPÖ), teria obtido 20,5%, em torno de 7,8 pontos percentuais a mais em relação a 2009. Isso significaria um terceiro lugar, atrás do conservador Partido Popular Austríaco (ÖVP) e dos social-democratas do SPÖ.
Em toda a EU, a taxa de comparecimento às urnas, de 43,1%, foi levemente maior do que em 2009, interrompendo a tendência de queda de comparecimento às urnas. Aproximadamente 400 milhões de pessoas foram convocadas a votar desde a última quinta-feira em toda a UE para eleger os 751 deputados do Parlamento Europeu.
MD/rtr/dpa/afp

DW.DE

terça-feira, 20 de maio de 2014

Direitista à força

Direitista à força




Desde que comecei a ler livros, meu sonho era um dia emergir do meio social culturalmente depressivo e ter um círculo de amigos com quem pudesse conversar seriamente sobre arte, literatura, filosofia, religião, as perplexidades morais da existência e a busca do sentido da vida – o ambiente necessário para um escritor desenvolver sua autoconsciência e seus talentos. Li centenas de biografias de escritores e todos eles tiveram isso.

Nunca realizei esse sonho, nunca tive esse ambiente estimulante. Por volta dos quarenta anos, entendi que não o teria nunca, e decidi que minha obrigação era fazer tudo para que outros o tivessem.

Minha atividade de ensino é voltada toda para isso. É com profundo desprezo que ouço gente dizendo que o objetivo dos meus esforços é "criar um movimento de direita".

Não conheço coisa mais inútil do que tomadas de posição doutrinal em política. O sujeito adota certas regras gerais e delas deduz o que se deve fazer na prática. Por exemplo, acredita em liberdade individual e daí conclui que não se pode proibir o consumo de cocaína e crack. Ou acredita em justiça social e por isso acha que o governo deve controlar todos os preços e salários.

O que caracteriza esse tipo de pensamento é a arbitrariedade das premissas, escolhidas na base da pura preferência pessoal, e o automatismo mecânico do raciocínio que leva às conclusões. No Brasil, praticamente todas as diferenças entre direita e esquerda se definem assim.

A coisa torna-se ainda pior pela tendência incoercível de raciocinar a partir de figuras de linguagem, chavões e clichês, em vez de conceitos descritivos criticamente elaborados. Isso torna o "debate político nacional" um duelo entre fetiches verbais imantados de uma carga emocional quase psicótica. Os fatos concretos, a complexidade das situações, as diferenças entre níveis de realidade, o senso das proporções e das nuances, ficam fora da conversa.

Aristóteles já ensinava que a política não é uma ciência teorético-dedutiva, na qual as conclusões se seguissem matematicamente das premissas, mas uma ciência prática enormemente sutil, onde tudo dependia da frónesis, o senso da prudência, assim como do exercício da dialética. Mas a dialética é a arte de seguir ao mesmo tempo duas ou mais linhas de raciocínio, e a impossibilidade de fazer isso é, dentre as 28 deficiências de inteligência assinaladas pelo pedagogo israelense Reuven Feuerstein, certamente a mais disseminada entre estudantes, professores, jornalistas e formadores de opinião no Brasil.

Não raro essa deficiência é tão arraigada que chega a determinar, por si, toda a forma mentis de alguma personalidade falante. Naquilo que neste país se chama um "debate", o que se observa nos contendores é a incapacidade de apreender o argumento do adversário, a ausência de uma verdadeira relação intelectual, substituída pela reiteração de opiniões prontas que o debate em nada enriquece.

O que me colocou contra a esquerda nacional desde o início dos anos 90 não foi nenhuma tomada de posição "liberal" ou "conservadora", mas a simples constatação de dois fatos: 1) a instrumentalização política das instituições de cultura e ensino pela "revolução gramsciana" estava acabando com a vida intelectual no Brasil e em breve iria reduzi-la a zero, como de fato veio a acontecer; 2) a opção preferencial dos partidos de esquerda pelo lumpenproletariat, tomado erroneamente como sinônimo de "povo" por influência residual de Herbert Marcuse, estava destinada a transformar a existência cotidiana dos brasileiros no carnaval sangrento que hoje vemos por toda parte.

Como é óbvio e patente que a solução de quaisquer problemas na sociedade depende da dose de inteligência circulante e do nível de consciência moral da população, daí decorria que, para denunciar a atividade maligna da esquerda nacional, que estava destruindo essas duas coisas, não era preciso que eu me definisse quanto àqueles inumeráveis pontos específicos de política econômico-social em que tanto se deliciam os doutrinários de todos os partidos e que em muitos casos eu considerava superiores à minha capacidade de análise.

Nos meus artigos, aulas e conferências, como o pode atestar qualquer observador isento, não se trata nunca de advogar determinada política em particular, mas apenas de lutar para que as condições intelectuais e morais mais genéricas e indispensáveis a qualquer debate político saudável não se percam ao ponto de desaparecer por completo do horizonte de consciência da classe nominalmente "intelectual".

Quando essas condições forem restauradas, não terei a menor dificuldade de me voltar para assuntos da minha preferência e deixar que o debate político transcorra normalmente sem a minha gentil intervenção.

Mas o fato é que, se a deterioração mental do País começou já no tempo dos militares, logo depois a esquerda triunfante a agravou ao ponto da mais desesperadora calamidade, e o fez de propósito, planejadamente, maquiavelicamente, disposta a tudo para impor, de um lado, a hegemonia cultural de cabos eleitorais, agitadores de botequim e doutores salafrários com carteirinha do Partido; de outro, a beatificação do lumpenproletariado e a completa perversão da consciência moral na população brasileira.

Até o momento nenhum partido de esquerda deu o menor sinal de arrependimento. Ao contrário, cada um se esmera na autoglorificação como se fosse uma plêiade de heróis e santos. Assim, não me deixam remédio senão estar na direita, no mínimo porque esta, no momento, não tem os meios de concorrer com a esquerda na prática do mal.


Olavo de Carvalho é jornalista, ensaísta e prof. de Filosofia

Fonte: http://www.dcomercio.com.br/2014/05/19/direitista-a-forca